quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Madrugada

Ele perguntou à namorada se ela desejava mais alguma coisa. Ela não respondeu nada, e então ele saiu do carro em direção à loja. Entrou e pegou algumas pastilhas, uma água com gás e as camisinhas, procurou ainda batatas fritas, mas desistiu, acha que já tem o suficiente. Foi caminhando calmamente até o balcão e depois de passar a conta percebeu que não está com a carteira no bolso.
- Espera só um minutinho, por favor! Eu vou pegar a carteira que ficou no carro e já volto – falou para a caixa.
Pediu à namorada para que ela pegasse a sua carteira e ela a entregou pelo vidro da janela. Voltou e percebeu que existe um casal mais ao fundo da loja. Dirigiu-se então novamente ao balcão com um sorriso e entregou o cartão.
- Débito?
- Sim, sim! – respondeu à caixa.
Nessa hora ele virou-se para olhar o casal e então percebeu que a mulher que estava ali presente é a sua ex-namorada. Olhou novamente, com mais atenção, pra ter a certeza de que é mesmo ela. Não consegue acreditar. Fica perdido por um tempo.
- Senhor, seu cartão...
Ele não prestou atenção. Tentou lembrar quando foi a última vez que tinha a visto. Um ano? “Ela mudou o cabelo”, foi o que respondeu pra si mesmo. Um ano e meio? Na festa daquele amigo deles em comum? “E quem é esse cara?”.
- Senhor, pode pegar seu cartão de volta – falou a caixa da loja.
Não conseguia distinguir a voz da moça de todas aquelas vozes que passavam rápido em sua cabeça. Promessas, risadas, brigas, declarações... era tudo demais. Era tudo rápido demais. Ele queria sair dali agora. Virou-se e percebeu que a caixa já estava esperando todos os produtos numa sacola e o cartão na mão. Pegou o recibo, agradeceu e sai de lá, rápido. Chegou do lado de fora se perguntando se ela o teria o visto, se teria o reconhecido, se teria pensado o mesmo. Porque ela não pensaria? Será que deveria voltar e conversar?
            Entrou no carro ainda atordoado, não conseguia entender o porquê dessa reação. Depois de entregar a sacola à namorada, sentou-se e ficou apenas com as mãos no volante, sem ligar o carro. Os olhos estavam se enchendo de lágrimas quando percebeu o toque em seu ombro.
- Está tudo bem, amor? – perguntou a namorada dele um tanto assustada pelo modo que ele entrou no carro.
- Hã? Hã? Ah... – sorriu tentando disfarçar – sim, meu amor. Está tudo bem. Vamos?
- Então vamos. A noite promete muita coisa ainda – disse ela entre sorrisos.
- Certamente – responde em voz baixa.
Saiu dali pensando quando será a próxima vez que ira vê-la de novo, quando iria poder explicar pra ela o que aconteceu há dois anos atrás.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Vago

sem você sou menos eu

sou um qualquer

qualquer
um



jogado


vago       solitário


tentando ser quem não sou

quem não posso ser

por não ter você





Escrito em: Novembro de 2007.