terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Então você se foi

Ele chegou mais cedo do que a hora marcada, como sempre foi de costume. Gostava de sentar ali e observar o movimento do parque – crianças chegando aos braços dos pais, descendo e brincando com outros pequenos desconhecidos, namorados aproveitando um dia de pouco calor à sombra de uma árvore, grupos de amigos que se juntavam pra passar o tempo rindo e brincando – enquanto ela não chegava. Era um bom exercício, pensava ele, olhar como outras pessoas gastavam seu tempo em busca de felicidade. Depois de um tempo sem pensar em mais nada ele percebe aquela mulher alta se aproximando à sua direita.

- Oi – disse enquanto levantava-se e caminhava lentamente em direção a ela -, como é que você está? Dormiu bem essa noite? – perguntou enquanto a abraçava.

Ela logo soltou uma contida risada e deixou no rosto um pequeno sorriso.

- Sim, não se preocupa com isso não. Depois de 1h da madrugada não é tão difícil assim cair no sono.

- Verdade, tinha me esquecido disso – mentira, ele lembrava exatamente de como ela não agüentava ficar até as 3 da madrugada como ele freqüentemente fazia. E ela também sabia que ele estava mentindo sobre isso, mas não fazia diferença agora.

- Quer caminhar um pouco? O parque está um pouco vazio, dá pra andar numa boa hoje.

- Não, não! A gente poderia se sentar ali naquele banco que você estava mesmo. - ela não estava com vontade de caminhar nem um pouco, queria acabar logo com aquilo. Não agüentava mais reticências.

Por alguns instantes ficaram admirando um criança que brincava longe de futebol com seu pai enquanto a mãe estava deitada, sorrindo ao passo que o filho corria pra pegar a bola que o pai tinha chutado com mais força que devia.

Foi ele que quem quebrou o silêncio.

- Não foi por falta de carinho – disse sem sequer desviar os olhos da criança.

- Não foi por falta de atenção – retrucou ela que tentava encontrar o olhar dele.

Foi a vez dele procurar os olhos dela. Sua voz já não saia mais com a firmeza e tranqüilidade de pouco antes.

- Não foi por falta de diálogo.

- Não foi? – disse ela sem saber se era uma pergunta ou se estava apenas concordando com ele.

- Não, não foi! – dessa vez voltando o olhar pra o garoto que ainda jogava bola com seu pai.

Após uma pausa foi a vez dela rasgar o silêncio entre os dois.

- Não foi por falta de desejo...

- Nem por falta de amor! – interrompeu ele voltando seu olhar pra ela num movimento rápido.

As lágrimas já não estavam fáceis de conter. Entre suspiros e o choro silencioso ela perguntou e ele: - E por que foi então?

Ele tocou o rosto dela, enxugou as lágrimas que desciam enquanto fechava os seus olhos. Quantos anos da sua vida foram dedicados àquela mulher? Quantas oportunidades desperdiçadas...

- Não sei... simplesmente, não foi.

Então eles se levantaram. Após um longo abraço deram um beijo trêmulo e curto. Entre soluços. Ele virou-se em direção ao gramado, ela voltou a ficar sentada no parque. Vendo a criança se jogar nos braços do pai enquanto iam embora.